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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011


Passa o tempo

Foi em 2002. Eu estava no segundo módulo do técnico em Turismo e procurava por estágio. Recebemos o contato da Natalie, da turma anterior, fomos a uma reunião. Era tudo novo ainda. Nós, quase tão jovens como aqueles aos quais tentaríamos proporcionar algo de bom. Em outubro, chegamos à Colméia. Conheceríamos um tal de Carlos, o coordenador, que para minha absoluta surpresa era um japonês baixinho e de voz calma. Confesso ter pensado que “aquele cara” deveria ser um desastre com as crianças. Pois é, as aparências enganam...
As atividades que aplicávamos, mais do que o brincar, exploravam conceitos culturais e procuravam trazer aos pequenos um pouco do nosso folclore, da cultura tão rica de um país que, cada vez mais, parece se esconder das suas origens. Mas este é um outro assunto. O fato é que, em toda a minha “descoordenação” motora, aprendi até a fazer pequenas peças artesanais e rodei pratos como em um circo. Lembro-me do compositor Sidney Miller, palavras de uma canção que aprendi na tenra idade – “faço versos pro palhaço que na vida já foi tudo (...) mas no fundo não sabia que em seu rosto coloria todo o encanto do sorriso que seu povo não sorria” e entendo que nossa função era um pouco essa: trazer sorrisos a petizes que viviam de modo quase equilibrista, lutando com suas famílias (os que as tinham) para não cair no abismo da falta de oportunidades. Quem sabe tenhamos conseguido. Precisávamos, por eles e também por nós, conseguir.
Convivi de modo direto com a recreação por praticamente um ano; a ONG ainda engatinhava, nem me lembro de saber o nome que hoje soa tão sugestivo. Realmente passa o tempo... Por tantos caminhos diferentes pelos quais andamos, pouco sei daqueles que fizeram parte do meu grupo. Virei “dinossauro” nas reuniões de confraternização. E, como professor – portanto também formador – percebo a cada dia como foram fundamentais os momentos em que convivi com a alegria e a crua honestidade das crianças. Aprendi a improvisar, a contornar pequenas rusgas, a ouvir. Hoje penso que me equilibro melhor na corda-bamba.
Sei que, com o passar das auroras, perdemos um pouco da crença naquele mundo meio encantado e irreal que nos envolvia enquanto éramos mais novos. Não dançamos mais, não rimos tanto, não cantamos músicas de roda com nossos amigos nem assobiamos alto no trabalho. Somos cobrados e, para que evoluamos profissionalmente, precisamos adquirir alguma sisudez. Mas, nesses dez anos, tenho a absoluta certeza de que a Passatempo nunca deixou fenecer em seus colaboradores a necessidade da alegria, a força do riso espontâneo e um pouco da inocência. Porque há sempre um lugar, seja ele real ou imaginário, para que façamos com lonas e cores o nosso espetáculo: “Vai, vai, vai começar a brincadeira...”.


ÁTILA ALMADA
Formou-se em Letras pela UNICAMP no ano de 2007
Hoje é professor, conferencista, poeta e pesquisador.
Coordenador do Concurso Literário que será realizado nas esscolas do Jaraguá

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